Eliezer Schneider (1916-1998) foi um importante professor de Psicologia Social de diversas instituições do Rio de Janeiro, e primeiro diretor do Instituto de Psicologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Schneider formou-se em Direito em 1939, na Faculdade Nacional de Direito da antiga Universidade do Brasil. Porém, nunca exerceu atividade ligada ao Direito. Em 1941, ingressou como assistente no Instituto de Psicologia, órgão suplementar da Universidade do Brasil. Em 1946, obteve uma licença para realizar o curso de mestrado em Psicologia na Universidade de Iowa, nos Estados Unidos da América, com uma tese sobre as teorias emergentistas da personalidade.
Ao voltar para o Instituto de Psicologia, em 1949, participou da administração, foi assíduo colaborador da revista “Boletim do Instituto de Psicologia”. Em 1963, assumiu interinamente a direção do instituto, fase em que colaborou para a criação do curso de Psicologia, implantado na antiga Faculdade Nacional de Filosofia. Atuou como psicólogo do Manicômio Judiciário e criou a cadeira de Psicologia Jurídica nos cursos de Psicologia da Fahupe, da UERJ e da Universidade Gama Filho (UGF), além de participar dos programas de pós-graduação da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Em 1973, obteve o título de professor titular por mérito, em parecer aprovado pelo CEG da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) (Processo n.33.169/73 – Boletim da UFRJ, vol.26, n.20, de 10.05.74).
Ingressou no quadro docente da UERJ em 1965, como professor do curso de Psicologia, criado no ano anterior por proposta do Professor Hans Ludwig Lippmann, datada de 20 de março de 1964. No mesmo ano, o curso teve início integrando a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, com aulas em suas dependências da Rua Hadock Lobo, 296.
Convidado a trabalhar como professor de Psicologia Social, teria deixado a UERJ em 1969, caso não houvesse interferência do Reitor Professor João Lyra Filho, atendendo à solicitação dos alunos. Reuniram-se em sala de aula alunos, alguns professores e o reitor para discutir a situação do curso e sua reclamada Habilitação de Psicólogo. Na oportunidade, os alunos reivindicaram também a permanência no curso e a efetivação das contratações dos Professores Eliezer Schneider e Marize Bezerra Jurberg.
Em 23 de junho de 1969, foi regularizado o contrato de trabalho do professor Eliezer Schneider. Nessa ocasião o curso pertencia ao Instituto de Biologia, o que se efetivou em dezembro de 1968. Tinha como chefe do departamento o Professor José Curvello de Mendonça.
Aprovado em 1º de fevereiro de 1971, o novo regimento geral da então Universidade do Estado da Guanabara contava, em sua organização e administração, com centros setoriais, faculdades e institutos, entre eles o Instituto de Psicologia e Comunicação Social. Das indicações, o nome do Professor Eliezer Schneider foi o escolhido para diretor. Ele iria cumprir o mandato 1971-1974. Entretanto, tal período foi acrescido de mais um ano, terminando em 1975, visto que um ato universitário visando a coincidência de mandatos entre reitor e diretores, assim o determinou.
Cinco anos de direção de Eliezer Schneider imprimiram ao curso de Psicologia uma tradição de harmonia e compreensão. O curso ganhou identidade e coesão e desenvolveu um estilo próprio, com uma organização que caracterizou a unidade, dadas as suas peculiaridades. Nas novas dependências, houve espaço para o Serviço de Psicologia Aplicada com boxes para atendimento individual e salas de reunião. Também para o Laboratório de Psicologia Experimental e da Aprendizagem, onde até um Biotério foi montado. Quanto à Biblioteca, era pobre em acervo e não possuía funcionários especializados. Schneider procurou, então, resolver a situação por meio de colaboração dos alunos que, sob sua orientação, trabalhavam na distribuição dos livros catalogados. Para o controle dos empréstimos, treinaram Marina de Jesus Ribeiro Andrade, na época Auxiliar de Serviços Universitários, muito interessada em ajudar e participar dessa tarefa. A melhoria do curso sempre foi uma aspiração dos alunos. Desde o início, contaram com a atuação de um Centro de Estudos de Psicologia que procurava enriquecer as disciplinas curriculares com eventos e palestras. E de grande importância foram os esforços reunidos em um movimento para o curso de Psicologia incluir em sua estrutura a Habilitação de Psicólogo, ou seja, o quinto ano. O Centro foi extinto, em 1969, por força da repressão vigente.
O Decreto Lei nº 477, regulamentado pelo Ministro da Educação, do Sr. Tarso Dutra, visava o controle e a repressão das atividades estudantis e do corpo docente referentes às manifestações políticas dentro das escolas. E manifestações políticas muitas vezes eram interpretadas em caráter muito pessoal. O receio era tanto que as autoridades do regime de então partiram para a prevenção de possíveis manifestações políticas. Repressão e prevenção passaram a ser sinônimos. Vários professores universitários foram atingidos. Felizmente, no curso de Psicologia, não houve qualquer denúncia. O Instituto de Psicologia e Comunicação Social ganhou com Eliezer Schneider um ambiente de tranquilidade e uma tradição, como já foi dito, de harmonia e compreensão. Atividades estudantis não deixaram de ser realizadas. Em 1971, com a participação de dois professores, foi criado o Psicocine. A partir de 1973, foram realizadas feiras de livros, como abertura dos anos letivos. Também a representação de alunos sempre ocorreu de forma natural, desde a criação do curso, pois era norma universitária. O próprio Schneider se encarregava de entrar em contato com as turmas que escolhiam seus representantes.
Ao se aposentar, em 1979, seu retrato foi inaugurado, como primeiro diretor do instituto, e fizeram uma reunião festiva em sua homenagem, à qual compareceram professores, alunos e funcionários. Schneider marcou sua trajetória na UERJ com a satisfação de ser professor e com o modo tranquilo que imprimiu a uma realização profissional de alto nível.
Atualmente, o acervo físico da Coleção Eliezer Schneider encontra-se disponível sob a guarda do Laboratório de História e Memória da Psicologia – Clio-Psyché (CLIO-UERJ). Estamos em fase de implantação do acervo no ICA-AtoM, software livre e com código-fonte aberto, desenvolvido para ser uma interface de acesso aos documentos arquivísticos.
Para informações sobre como agendar visita à Coleção Eliezer Schneider, enviar e-mail para acervo.cliopsyche@uerj.br.