Nilton Quadros Campos (1898-1963) nasceu no Rio de Janeiro em 23 de agosto de 1898. Era filho de Carmelinda Quadros da Silva Campos e de Luiz Antonio da Silva Campos. Formou-se em Medicina em 1924, especializando-se em Psiquiatria. Também se diplomou pela Faculdade Nacional de Filosofia, obtendo título de Doutor. Em 14 de fevereiro de 1931, casou-se com a professora Hilda Higgins Imenes, que o auxiliou em suas produções acadêmicas. Nilton e Hilda não tiveram filhos. Posteriormente, aderiu às atividades do Laboratório de Psicologia da Colônia de Psicopatas do Engenho de Dentro, instituição – à época – dedicada à pesquisa, diagnóstico e tratamento das doenças mentais. Este laboratório foi idealizado pelo psiquiatra Gustavo Riedel (1887-1934) e posteriormente dirigido pelo professor polonês Waclaw Radecki (1887-1953), o qual foi supervisor de Nilton Campos. 

A trajetória profissional de Campos se dá em duas etapas que, embora possuam peculiaridades, não devem ser compreendidas separadamente. A fase inicial é marcada fortemente pelo desenvolvimento de atividades experimentais e ligadas à Neurofisiologia. A segunda fase se caracteriza por publicações notadamente filosóficas, preocupadas com discussões mais teóricas acerca da ciência psicológica. 

Entre 1945 e 1948, Campos defende a tese “O Método Fenomenológico na Psicologia” para concorrer à Cátedra de Psicologia da Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil (atual Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ). Esta produção pode ser compreendida como pioneira no Brasil quanto a uma discussão mais aprofundada acerca das possibilidades de diálogo entre a filosofia fenomenológica e a prática psicológica, tornando Campos nome de destaque quanto ao percurso histórico da Fenomenologia no país. Como homenagem, o Pavilhão de Psicologia da UFRJ nomeou o referido espaço em tributo ao Dr. Nilton Campos. 

Em termos institucionais, Campos foi assistente de Laboratório de Psicologia de Colônia de Psicopatas do Engenho de Dentro; diretor do Instituto Médico-Pedagógico Paulista; diretor do Instituto de Psicologia de Assistência a Psicopatas; membro da Academia Nacional de Medicina; membro-fundador da Sociedade de Neuropsiquiatria paulista; assistente da Clínica Psiquiátrica da Faculdade Nacional de Medicina; neuropsiquiatra do Serviço de Neuropsiquiatria da Secretaria de Saúde e Assistência; diretor do Instituto de Psicologia da Assistência a Psicopatas do Distrito Federal; diretor do Instituto de Psicologia da Universidade do Brasil; e chefe do departamento de Filosofia da Faculdade Nacional de Filosofia. Além disso, participou de conselhos e comissões examinadoras, bem como sociedades e associações nacionais e internacionais. Entre estas, destacam-se a Sociedade de Neurologia, Psiquiatria e Medicina Legal; Sociedade Brasileira de Psicologia; Sociedade Brasileira de Criminologia; Associação Brasileira de Medicina; Sociedade de Psicologia de São Paulo; International Phenomenological Society; American Psychological Association; Internacional Rorschach Society; e Société Française de Psychologie.

No campo específico da docência, Campos atuou como professor nas seguintes áreas: Psicologia e Lógica, no Colégio Pedro II; Psicologia, no Curso Complementar da Faculdade Nacional de Medicina; Psicologia, na Escola de Enfermeiras Alfredo Pinto; Psicologia Educacional, na Faculdade Nacional de Filosofia; Psicologia Social, na Faculdade Nacional de Filosofia; e de Psicologia Social, na Faculdade Nacional de Ciências Econômicas.

Quanto às produções, Campos publicou diversos textos sob diferentes formatos, como artigos, discursos, conferências etc. Grande parte das publicações foi realizada por meio do Boletim do Instituto de Psicologia, um periódico criado por Campos com auxílio de seu assistente, o professor Antonio Gomes Penna (1917-2010). Além da já mencionada tese, destacam-se em seu conjunto de obras: “Psicologia da Vida Afetiva” (1930); “Exame Psicológico de Personalidade” (1940); “Fundamentos da Análise Científica da Vida Afetiva” (1940); “Diferença entre Descrição e Explicação no Estudo da Psicologia Científica” (1953); “Antecedentes Filosóficos do Isomorfismo Gestaltista” (1954); Algumas Considerações sobre a Psicologia Científica do Pensamento” (1955); Sigmund Freud” (1956); e “A Ética Através dos Tempos” (1960)”. 

Em 9 de setembro de 1963, Campos faleceu por problemas de saúde. Seus trabalhos contribuíram para o desenvolvimento da ciência psicológica e seus fundamentos, área em que Campos certamente pode ser tomado como referência nacional. 

 

Atualmente, o acervo físico da Coleção Nilton Quadros Campos encontra-se disponível sob a guarda do Laboratório de História e Memória da Psicologia – Clio-Psyché (CLIO-UERJ). Estamos em fase de implantação do acervo no ICA-AtoM, software livre e com código-fonte aberto, desenvolvido para ser uma interface de acesso aos documentos arquivísticos.

Para informações sobre como agendar visita à Coleção Nilton Quadros Campos, enviar e-mail para acervo.cliopsyche@uerj.br.

 

Referências

Academia Nacional de Medicina (2024, 09 de agosto). Nilton Quadros Campos. https://www.anm.org.br/nilton-quadros-campos/ 

Campos, N. (1930). Psychologia da vida affectiva. Rio de Janeiro: s.n.

Campos, N. (1945). O método fenomenológico na Psicologia (Tese de Concurso apresentada à Cátedra). Universidade do Brasil, Rio de Janeiro.

Holanda, A. F. (2012). O método fenomenológico em psicologia: uma leitura de Nilton Campos. Estudos e Pesquisas em Psicologia12(3), 833-851.

Mendonça, D. N., & Holanda, A. F. (2021). Algumas possibilidades de interlocução entre Fenomenologia, Gestaltismo e Psicologia na Tese de Nilton Campos. In A. M. Jacó-Vilela, F. Degani-Carneiro e M. A. G. N. T. Vasconcellos (Orgs.). Clio-Psyché: História da Psicologia e suas críticas (pp. 391-399). Curitiba: CRV. 

Mendonça, D. N., & Holanda, A. F. (2021). Nilton Campos e a psicologia brasileira: um resgate biográfico e bibliográfico. Estudos e Pesquisas em Psicologia21(2), 786-804.

Penna, A. G. (1992). História da Psicologia no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Imago.

Penna, A. G. (2001). Campos, Nilton (1898-1963). In R. H. F. Campos (Org.). Dicionário biográfico da Psicologia no Brasil (pp. 112-114). Rio de Janeiro: Imago. Brasília: CFP.

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