Raimundo de Farias Brito (1862-1917), nascido em São Benedito em 24 de julho de 1862 e falecido no Rio de Janeiro em 16 de janeiro de 1917, foi um escritor e filósofo brasileiro de grande renome. Considerado um dos maiores nomes do pensamento filosófico do Brasil, Farias Brito produziu uma das mais completas obras filosóficas originalmente brasileiras, abordando os planos do conhecimento e do ser e retornando dogmaticamente à metafísica tradicional com um caráter espiritualista.
Filho de Marcolino José de Brito e Eugênia Alves de Farias, Farias Brito realizou seus primeiros estudos em Sobral. Devido à seca, ele e sua família se mudaram para Fortaleza, onde completou o curso secundário no Liceu do Ceará. Graduou-se em Direito pela Faculdade de Direito do Recife em 1884, onde foi aluno de Tobias Barreto. Atuou como promotor e, por duas vezes, como secretário no governo do estado do Ceará. Mais tarde, transferiu-se para o Pará, onde lecionou na Faculdade de Direito de Belém e trabalhou como advogado e promotor. Reconhecido por sua obra, mudou-se para o Rio de Janeiro em 1909, onde venceu o concurso para a cátedra de lógica do Colégio Pedro II, embora tenha inicialmente perdido a nomeação para Euclides da Cunha, que faleceu pouco depois. Farias Brito acabou por ocupar o cargo pelo resto de sua vida.
A principal preocupação filosófica de Farias Brito era combater o materialismo, promovendo uma cosmovisão espiritualista. Para ele, o espírito era a “energia que sente e conhece”, manifestando-se como consciência, capaz de sentir, pensar e agir. O espiritualismo, para Brito, considerava o espírito como a realidade suprema e a matéria como uma criação ou manifestação do espírito. Seu pensamento filosófico passou por duas fases principais: uma de monismo panteísta, acentuada na obra “Finalidade do Mundo”, e outra de pluralismo teísta, que atingiu seu ápice em “O Mundo Interior”. Em ambas as fases, Farias Brito defendeu um espiritualismo, embora tenha se afastado do monismo em sua fase final para adotar um teísmo que concebia Deus como a causa primária pessoal de todas as coisas.
Na ética, Farias Brito baseava seus princípios na busca pela verdade e no aprimoramento moral do ser humano. Ele acreditava que a ética se resumia em fazer o bem e evitar o mal, com o homem envolvido em uma luta entre os chamados da consciência e os instintos naturais. A liberdade espiritual do homem, segundo ele, estava na escolha entre convicções e conveniências, com a verdade sendo a adequação do intelecto à realidade, e a convicção representando a posse subjetiva dessa verdade.
Politicamente, Farias Brito foi um crítico da Revolução Francesa, do liberalismo, do individualismo, da democracia e do socialismo, argumentando que esses movimentos contribuíram para a destruição das crenças tradicionais e promoveram o materialismo. Ele via a necessidade de uma reforma social fundamentada em princípios morais, conduzida pela convicção e amor, em vez de luta e ódio. Farias Brito defendia que a solução para a questão social deveria ser buscada na filosofia, por meio de uma “grande ideia moral” e não pelo interesse material.
Religiosamente, Farias Brito iniciou sua trajetória como adepto do panenteísmo, mas ao longo do tempo passou a afirmar a existência de um Deus pessoal e criador. Ele entendia Deus como a causa e explicação de todo ser, com o espírito humano sendo um efeito do Espírito Divino. Sua filosofia aproximou-se do cristianismo com o tempo, refletindo uma evolução espiritual que influenciou profundamente seus escritos e sua vida pessoal. Farias Brito manteve um lar cristão e sempre valorizou a espiritualidade em sua vida familiar.
Farias Brito deixou um legado filosófico importante, composto por diversas obras que refletem sua trajetória de pensamento. Entre suas obras mais notáveis estão “A Filosofia como Atividade Permanente do Espírito Humano” (1895), “A Filosofia Moderna” (1899), “Evolução e Relatividade” (1905), “A Verdade como Regra das Ações” (1905), “A Base Física do Espírito” (1912) e “O Mundo Interior” (1914).
Sua obra continua a ser estudada e homenageada no Brasil, com escolas, bairros e estátuas em sua honra. Farias Brito é lembrado como um dos grandes pensadores brasileiros, cujas ideias continuam a influenciar a filosofia e a educação no país.
Atualmente, o acervo físico da Coleção Raymundo de Farias Brito encontra-se disponível sob a guarda do Laboratório de História e Memória da Psicologia – Clio-Psyché (CLIO-UERJ). Estamos em fase de implantação do acervo no ICA-AtoM, software livre e com código-fonte aberto, desenvolvido para ser uma interface de acesso aos documentos arquivísticos.
Para informações sobre como agendar visita à Coleção Raymundo de Farias Brito, enviar e-mail para acervo.cliopsyche@uerj.br.
Referências
Centro de Documentação do Pensamento Brasileiro (Org.). (1999). Dicionário biobibliográfico de autores brasileiros: Filosofia, pensamento político, sociologia, antropologia. Salvador: CDPB; Brasília: Senado Federal. Disponível em https://www2.senado.leg.br/bdsf/handle/id/1030
Cerqueira, L. A. (2010). Farias Brito e a ideia de filosofia brasileira. http://textosdefilosofiabrasileira.blogspot.com/2010/03/farias-brito-e-ideia-de-filosofia.html
Queiroz Cobra, R. (n.d.). Raimundo de Farias Brito. http://www.cobra.pages.nom.br/fbp-fariasbrito.html.
Universidade Federal de Pernambuco. (n.d.). Raymundo de Farias Britto: O maior filósofo do Brasil. Curiosidades CCJ. https://www.ufpe.br/arquivoccj/curiosidades/-/asset_publisher/x1R6vFfGRYss/content/raymundo-de-farias-britto-o-maior-filosofo-do-brasil/590249